segunda-feira, janeiro 17, 2005

Uma teoria

No último domingo pus em xeque uma verdade que tinha como certeza quase científica. Sempre tive muito claro para mim que a beleza feminina era muito mais cobrada, mas agora duvido das armadilhas que esta afirmação traz.
É certo que as gordurinhas das mulheres são muito mais percebidas e criticadas, enquanto que as barriguinhas de chope dos homens estão longe de representar uma ameaça. Para os que sabem falar de Baudelaire, Abbas Kiarostami, pós-modernidade, poetas latinos, música popular brasileira, Tigres Asiáticos e sei lá mais o que, os protuberantes abdomens são quase um complemento perfeito, motivo até de suspiros das apaixonadas. Só que ninguém nunca ouvirá um comentário masculino do tipo: “nossa, aquele cabelo desgrenhado me enlouquece! E a perna cabeluda, os óculos, a pancinha saliente dela... Hummm... tudo puro orgasmo visual!”
Não. Definitivamente, ninguém vai escutar isso.
Pareço me contradizer? Não mesmo. Comecei o post falando que havia caído por terra a minha crença de que a beleza feminina era mais cobrada e reafirmo que esta é uma visão restrita.
Para ilustrar a questão, cito como exemplo o cenário da minha descoberta: a praia de Ipanema.
Ontem: domingo, verão, férias escolares e 39 graus nos termômetros. Dizer que a praia de Ipanema estava lotada é desnecessário. Ainda assim insisti em arranjar um lugar ao sol, em todos os sentidos, mas não sem antes fazer algumas considerações.
No posto 8 me senti estrangeira no meio de uma gente barulhenta e com um senso de coletividade no mínimo oposto ao meu. Tudo bem, só queriam compartilhar a música que traziam em seus sons portáteis. Que gente mais alegre... Mas por via das dúvidas e tendo em vista a possibilidade sempre presente do meu gosto musical não ser necessariamente o do meu vizinho da barraca ao lado, prefiro fazer SILÊNCIO.
Um pouco adiante, já estariam os postos 9 e 10. Como não pretendia ver o “fashion week” (ou melhor, weekend) praiano dos cariocas e das cariocas na passarela de areia, todos sempre “num doce balanço a caminho do mar”, pensei seriamente na possibilidade de voltar pra casa e retomar a leitura do meu livro. Mas tive uma idéia, uma possibilidade de um “quase” oásis – um olhar atento às circunstâncias é capaz de prever que meu conceito de oásis estava bastante alterado. Pensei na única possibilidade de Paraíso na praia cheia: A FARME DE AMOEDO.
Para os que não sabem, a Farme de Amoedo é uma rua de Ipanema, internacionalmente famosa pelos bares gays. O trecho da praia em frente à rua em questão tem uma enorme, colorida e tremulante bandeira do Rainbow fincada na areia. Sabendo que boa parte da população carioca (famílias “de bem” com suas crianças, e tantos machões convictos) se recusaria a ficar ali, parti para minha experiência antropológica.
Sim, estava muito mais vazia aquela parte. E mais silenciosa. E mais civilizada.
A surpresa depois de 10 minutos e um olhar que se dispunha a ser bem atento: quase todos, repito, quase todos os homens que vi (devidamente acompanhados de seus homens), quase todos eram, se não exatamente bonitos, extremamente bem cuidados, vaidosos, malhados, depilados e charmosos. E, obviamente, morenos de sol. Orgulhosos, andando de mãozinhas dadas com seus pares, aos beijos, cheios de si e de amor para dar.
Surpresa número dois: quase todas, repito, quase todas as meninas que estavam com suas meninas, quase todas eram extremamente esquisitas, pálidas, encurvadas, mal-tratadas e de olhar ressabiado.
Depois disso, a reformulação do conceito: não sei se a beleza feminina é mais cobrada. Talvez os homens cobrem mais a beleza de seus pares, não importa de qual sexo.
As meninas, no canto, encolhidas, parecem mais condescendentes com qualquer tipo de displicência estética. Se for um sinal a mais de carência e desordem emocional que afetam a tantas mulheres a procura de um pouco de carinho e compreensão, aí é preocupante. Opção sexual eu não discuto, nem lamento. Quero mais que as pessoas sejam felizes. Mas elas são?

7 comentários:

Anônimo disse...

Trouxe uma outra mãe para conhecer seus escritos, a minha!E ela também ficou fascinada. Ficamos as duas, sentadinhas na frente do computador, saboreando cada parágrafo.Ela ainda não tem muita experiência na informática, mas vem aqui pra casa e pede que eu a ensine.Assim,terá autonomia para: ler tudo da netinha que está distante(e-mails, blog, fotolog, etc), obviamente, e agora, desfrutar de seus textos. Este,nós duas gostamos muuuiiito.

Anônimo disse...

Esqueci de assinar:Mônica. beijinho

A digestora metanóica disse...

Que engraçado o seu comentário, "tia" Mônica! Sabe que meu pai também gostou muito desse texto? Apesar dele ficar um pouco intrigado com algumas coisas e não visualizar bem certas cenas descritas, ele achou interessante o fato de eu escrever tanto sobre algo que, inicialmente, não é nada.
Estou até achando que vocês comentaram no lugar errado, não?
Beijos!

Deia Vazquez disse...

miga, o text eh muito bom sim!
nada q uma releitura nao ajude.
beijos

A digestora metanóica disse...

Você não é uma leitora dos meus textos tão interessada quanto eu sou dos teus. Tudo bem, nada é perfeito... hehehe

Anônimo disse...

Não, Gisele, comentei neste texto mesmo. Está muito bom.
Beijinho Mônica

A digestora metanóica disse...

Mônica, é que acho as minhas teorias meio malucas, quase sempre não muito embasadas e às vezes até mesmo mal escritas, truncadas. É sempre válido escrever, me faz um bem danado, e que bom que não fica só pra mim então...
Beijos