sábado, janeiro 20, 2007

Playing the angel

Sometimes I try
Sometimes I lie, with you
Sometimes I cry
Sometimes I die, it's true

How to disappear completely - 2

Tem dias assim: em que toda a minha onipotência é desmentida feito barata esmagada por pé de criança. Me repito sempre, por mesmo acreditar, que vantagem minha é estar morta, e viver de vagar por aqui, só achando graça das coisas. Mas, vez e outra, essa dormência de não existir me dói.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Tudo sobre minha calcinha preta

A Beca me ligou ontem às dez da noite. Disse que eu estava sumida, tal, mas não fez muito rodeio e mandou:

— Gi, você esqueceu uma calcinha preta aqui?

Resposta afirmativa. Ela pediu detalhes:

— Mas como é exatamente a calcinha?

E eu descrevi.

— Pois esse filho da puta aqui do meu lado escapou de morrer agora. A sorte foi que ele me lembrou que você ficou com o apartamento no Ano Novo, quando estávamos em Salvador.

Tivemos uma crise de riso.

Mas a história está longe de acabar por aí. Alguns dados: a Beca é a namorada do Dés, que me emprestou seu apartamento em Ipanema para o Réveillon. O Dés e eu namoramos durante um ano e meio, de agosto de 2002 a janeiro de 2004. Mais que amantes, fomos grandes amigos. Parceiros. Cúmplices. Mas, quando decidimos que não seríamos mais um casal, não teve jeito de salvar amizade, parceria ou cumplicidade. Tudo irremediavelmente perdido, parecia, até que, quase dois anos depois, bati à sua porta. Era o Natal de 2005, eu havia acabado de dar de cara com o meu último amor, num bar na Praça Nossa Senhora da Paz, que estava acompanhado. Naquele momento, pensei que somente um reencontro com o meu passado me livraria de um doloroso desespero. E eu não me enganei...

Quando o reencontrei, vi encarnadas as respostas pra tantas das minhas perguntas. Os questionamentos se tornaram desnecessários e eu me compreendi. Revê-lo me proporcionou instantâneas lições que, hoje, guardo no bolso, no peito e em todos os cantos de mim. Como eu escrevi dias depois que tudo aconteceu:

"Naquela hora e meia, tudo fez sentido. Eu, que nunca entendi por que a gente ama tanto pra acabar, compreendi finalmente que algumas reações de amor, desencadeadas, explodem no infinito, pra salpicar o universo. Ejaculação de um aparente caos que engravida o cosmo e gera beleza. Porque 'a beleza salvará o mundo'.
(...)
Durante aquela conversa de portaria, fez muito sentido amar. Não para se ter algo, mas para engravidar o mundo de beleza. Eu senti muito orgulho porque um dia dediquei tanto amor a um cara tão bacana. Simples assim."


A amizade foi resgatada, de uma maneira — me atrevo a dizer! — ainda mais bonita. Passamos juntos o Reveillon de 2005, na festa em que conheci muitos de seus novos amigos, que só dois meses depois souberam do nosso namoro no passado. Combinamos assim. Não fazia sentido me apresentar como ex, com um rótulo desses. Amiga e pronto, e sempre. Seus novos amigos (que não eram da “minha época”) me acolheram, entre eles a Beca. E passaram a me convidar para todos os programas. Dois meses depois, quando resolvemos contar o “detalhe” (para evitar uma futura confusão, porque a Beca se apaixonara pelo Dés, o Dés por ela, e o primo dela por mim), até que levaram um susto, mas aí já não importava mais. Em pouco meses o Dés estava namorando com a Beca, e ela já gostava tanto de mim, e eu dela, que não nada podia mudar isso.

Obviamente que muita gente mal consegue disfarçar o espanto . “Você pegou a chave do apartamento do ex? Mas e a namorada dele? Não fala nada? Vocês são amigas? Que gente mais moderna...”. Quando cheguei de viagem, em novembro, os dois me convidaram para um almoço no meu primeiro final de semana aqui. Outros amigos do Dés estavam presentes — desta vez os antigos, os da “minha época”. As pessoas se entreolhavam muito, flagrei tantos cochichos que, então, resolvemos nos pronunciar, a Beca e eu: “É, a gente se gosta”.

Na verdade, tem uma parte nisso tudo que não me agrada: a Beca acabou com uma das minhas diversões favoritas, que era falar mal das atuais dos ex-namorados, ou das ex-namoradas dos atuais. Porque a Beca, além de ser doce, sensível, amiga, falar com um sotaque baiano muito do charmoso, ser atriz e também cantar de um jeito lindo, ainda tem um metro e oitenta e é belíssima.

Pois então. Depois de ter passado quatro noites no apartamento emprestado, minha calcinha preta, esquecida no varal no dia 2 de janeiro, foi parar na gaveta da Beca. Quando ela viu, acordou o Dés aos sacolejos, pedindo satisfações. Mas, afinal, tudo se resolveu: a calcinha era da ex.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Guimarães e amores, insônia e incenso

Já em casa (sem sono, pra variar). Papo de madrugada com a Santa Helô no msn sobre Grande Sertão: Veredas. Acabei pegando o livro e relendo grifos antigos.

"Comigo, as coisas não têm hoje e ant'ôntem amanhã: é sempre. Tormentos.
(...) relembrando minha vida para trás, eu gosto de todos, só curtindo desprezo e desgosto é por minha mesma antiga pessoa".

Não é à toa que os homens da minha vida sejam todos santos. Faz tempo que não me sobra tempo para condená-los. Quase uma santa... É que eu percebi que autoflagelo é mais produtivo. Faz andar.

Estou lembrando de outro papo (não mais com a Helô). Ele me disse que eu fui suicida, que não lutei por meus amores. Mas eu olho daqui os meus amores e me prefiro sem eles, sem a parte que os amou. Aquela que foi carcomida, que apodreceu, que também morreu.

Preciso dormir. Faz dias que não tomo café, mas meu organismo anda muito distraído e ainda não se deu conta disso.

Em tempo: terceira noite de "incensada" na redação. E o Rio de Janeiro continua uma Varsóvia de tranqüilidade... Os incensos estão virando lenda. Pedidos já para que sejam acendidos todas as noites.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Solange Frazão da Índia

Primeira aula de ioga do ano. Muitos exercícios de purificação, limpeza dos chacras, vibrações de lam, vam, ram, ham... Relaxamento, respiração e muita concentração. Na aula de 14h45, eu era a única aluna, então tive aquela atenção especial da professora, que, no final, ainda me vendeu uns incensos muito bons: de cereja e gengibre (paz, equilíbrio e força interior) e de flor de pitanga (vitalidade, prazer e afeição). Saí da aula e passei no Mundo Verde, que fica bem em frente.

Estou falando tudo isso porque recebi um e-mail da Déia ontem. Ela me dizia:

"Não gosto qd vc exagera no estilo zen: qd so sabe falar de Aloe Vera e meditação. Tudo bem, eh legal se cuidar, mas dar uma de Solange Frazão da Índia não dá".

A crítica fazia parte de um jogo que propus ontem. A brincadeira consiste em cada uma falar tudo o que incomoda na outra.

Pois eu respondi:

"Sobre meu estilo zen, não acho que exagere nele de modo específico. Sou obcecada com muitas coisas e minhas 'novidades' sempre me tornam repetitiva, porque eu me empolgo e não páro de falar delas. Pra ficar mais gatinha, eu precisaria calar minha boca, de um modo geral.
(...)
Você é muito mandona."


Autocrítica também é fundamental.

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Resta Um
Mais uma demissão em massa no jornal. Só na minha editoria, cortaram mais 4 cabeças (um outro cara, que entrou comigo, já tinha ido embora antes do Natal).

Quando deu meia-noite, acendi o incenso de flor de pitanga na redação, com a aprovação dos "coleguinhas" (eu tenho pavor dessa expressão). Uma purificada no ambiente caía bem. A repórter de cidade, que tava na escuta hoje, pediu um só pra ela, pra ficar do lado do rádio com a freqüência da polícia.

Fomos embora à uma da manhã. O Rio de Janeiro estava quase uma Varsóvia de tão tranqüilo. Ou a energização foi boa, ou o Cabral tá amedrontando a rapeize mesmo...

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Samurai-Zen
A ilustração acima é do Dés. O Goiaba, além de morar em Ipanema, comer ração de salmão e gozar com Radiohead, ainda tem pai artista.

Quem quiser ver mais ilustrações do Dés, pode visitar a Renderia. Como ele bem definiu, é "um puxadinho de idéias". Espero que tome vergonha na cara e faça logo o site. Material tem. Ô.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Goiaba



Na hora de definir uma legenda, me valho da sabedoria jornalística. Se fosse pobre, eu diria que é um meliante, tarado, psicopata. Mas como mora em Ipanema e come ração de salmão, é sensível e artista.

Cadê a cadeira que tava aqui? O gato comeu!

Uma fábula. O Dés viajou pra Salvador com a Beca e, gentilmente, deixou a chave do ap em Ipanema comigo, me salvando do que seria a grande furada do Réveillon: tentar voltar pra Niterói depois do plantão que terminava às 23hs.

Foram quatro dias, só eu e o Goiaba, o gato do Dés. Cheguei na sexta-feira 30. O bicho miava tanto que, depois de checar água, ração e terra 74 vezes, saí correndo do ap, me sentindo um fracasso como mãe de gato zona sul, e fui me encontrar com a Dê, o Di, o Bob e o Pedro, que estavam por ali, no Banana Jack.

Cervejas, conversas, teorias, divagações. Depois pizza, mar à noite, mais conversas, teorias e divagações, com brincadeira de chutar areia da praia. Adiamentos do meu reencontro com o gato.

Depois de miados estridentes durante duas madrugadas - sexta pra sábado e sábado pra domingo - acho que ele relaxou. De verdade. Porque na manhã de domingo, assistindo pela trolhogésima vez o clipe de Let Down, comecei a fazer carinho na barriga do Goiaba, que foi se arreganhando. Música rolando, reparo nos movimentos pélvicos do bichano, vejo aquela coisa vermelha ficando mais saliente, depois um troço branco na ponta da coisa vermelha. E, juro, juro, no último acorde, a gotinha cai na cadeira do computador. O Goiaba, de uma sensibilidade muuuuuuuuito maior que a minha, gozou com Radiohead. Gato de bom gosto e muito estáile esse...

terça-feira, janeiro 02, 2007

Desejo e sonho de sobra pra transformar ímpar em par

Naquele fim-de-ano de 2005 pra 2006, descobri que eu não era a única a ter expectativas em relação aos anos pares e receio quanto aos ímpares. A Déia e o Dés me contaram: depois de pararem pra fazer um balanço dos anos vividos, como eu eles constataram que os pares ganhavam em realizações, surpresas e momentos inesquecíveis.

2006 foi ano de autodescobertas importantes, de sujeiras cansadas da cobertura dos tapetes; de recolhimento mas também de aventuras. De receios que serviram para encorajar. Tempo de peito aberto pra vida, mas também de um olhar pra dentro. Inconstâncias e equilíbrios, estréias e mesmices. Amor nenhum e amores de sempre, amizades novas com cara de velhas, amigos antigos redescobertos, renovados, ressignificados e reinterpretados. Viagens, muitas viagens.

O último dia de 2006 foi um 31 de plantão no jornal até às 23h, de tensão pelos alertas da escuta na redação. Não confirmados carros queimados, comércios fechados e morros a serem invadidos. Sim, repórteres e fuzis. Rio de Janeiro de festas, de fogos e dos infernos. Mas também houve noite de luz em Ipanema, abraços antigos mais apertados, olhos de sempre nunca tão vistos, conversas repetidas para ouvidos transformados, mesmas teorias contadas com risos inéditos. Bocas misturadas, embebidas em beijos e vinhos.

Apelando pros salvadores clichês: 2006 vai entrar pra história. Resta agora fazer de 2007 um ano par. Pra isso, há desejo e sonho de sobra.