quarta-feira, janeiro 30, 2008

Vênus e madrepérolas

Dia desses conheci uma mãe que me desconcertou. Puta merda, não duvido um milímetro dessa coisa de que mãe tem uma percepção diferente, mas olhar praquela mãe foi particularmente desconcertante porque a sensação era de reconhecimento e eu, que não acredito em vidas passadas, me vi vasculhada, lida e reconhecida a cada olhadela de relance daquela mãe.

Ela era belíssima, ou pelo menos a imagem registrada e mantida é de uma mulher belíssima, palpitante e parcimoniosa ao mesmo tempo, de voz mansa porém firme, mas, parando pra pensar, acho que nem sei dizer como ela é. Sim, lembro bem dos olhões azuis impressionantes, tanto mais porque cada vez que eu me deparava com eles me batia uma inquietação que me paralizava, se é que isso é possível, porque o desejo de fugir daqueles olhos tinha a mesma intensidade da vontade de espiá-los.

Meu fascínio pelas mães e mulheres é recente. Sempre tive muitos amigos homens e, coincidentemente, as minhas poucas amigas mulheres eram aquelas que tinham muitos amigos homens. Não saberia precisar em que momento a chave virou e eu passei a admirá-las (mulheres, mães de fato ou em potencial). Inventei aquele marco meio pomposo: o contato com Clarice Lispector, depois Simone de Beauvoir, Virginia Wolf, Adélia Prado. Afetação ou não, acho mesmo que faz sentido. Contribuiu também o fato de ter conhecido mulheres fantásticas, daquele jeito que o Vinícius falava, "mulher que se sabe mulher", feito a Helô, que por acaso também é mãe.

Uma vez escrevi que durante a minha adolescência, e até bem pouco tempo atrás na verdade, nunca me imaginei mãe de menina. Muito provavelmente porque me assustava a idéia de ter que lidar com uma mocinha tão angustiada, dramática e visceral feito eu. Mas, nessa auto-análise, bem lúcida até, não considerei que fui criada desde os 11 anos pelo meu pai e que o fato de crescer num ambiente sem a figura materna há de alterar percepções e formas de relação.

Tardiamente ou não, parei pra prestar atenção nelas e muito freqüentemente sinto um certo "orgulho da espécie" quando vejo uma mulher que encanta. É isso. Orgulho é a palavra. Só consigo admirar. Disseram uma vez e concordei: as belas têm uma função importante no mundo. Acrescento: as inteligentes, as sensíveis, as neuróticas, as afetadas também - e até mesmo as angustiadas, dramáticas e viscerais.

2 comentários:

Olívia Bandeira de Melo disse...

Olá, saudades...
Me reconheci um pouco no seu texto. Sempre achei que só seria capaz de ter filho homem, porque mulher é um bicho insuportável. Mas, no sábado passado, Cordão do Boitatá, alguém - acho que a Lu - me disse: "Você só será mãe de homem". Me veio um medo danado de meu desejo ser realizado e de não ter a oportunidade de sentir o que é criar uma mulher - neurótica, angustiada, louca, forte, fraca, humana...
Beijos

Miriam disse...

Oi!
sabe, não sabe(lógico...rsrsrs), sou mãe e sou filha e sou estudante e sou avó...Uma vida louca e agitada. Hoje falava com minha filha Paula, que mora em Paris e ficamos horas falando sobre mulheres e o mundo comtemporâneo, rimos muito da loucura que o filme Sex and City está provocando, falamos das bisavós e da delícia de misturar uma boa leitura filosófica, com ouvir e cantar uma música e ainda se deliciar cozinhando ou fazendo um xale de crochet.
Misturando tudo...é a metanóia mesmo!
Abraços