segunda-feira, maio 14, 2007

Conto do prazer em si

Havia algo de gozo inédito naquele dia em que se entregou ao seu ritual de prazer solitário. Desta vez, aqueles dedos – sempre tão úmidos que chegavam a enrugar – aqueles dedos estavam embebidos de uma vitória espessa cujo sabor jamais experimentara.

Fazia tempo ela se convencera de que precisava de um homem à sua imagem e semelhança: mistura de força e delicadeza, altivez e humildade, beleza simples e alma vibrante, sarcasmo e bondade, requinte e desprendimento, intelecto e sensibilidade. Yin e yang bem dosados. E êxtase pra esporrar em tudo.

Naquele dia as mãos percorreram caminhos há muito desbravados, mas uma grande estréia se desenhou no pensamento. Pela primeira vez, era o seu próprio rosto que lhe sorria naquele corpo imaginário que criara pra se satisfazer. Assim refletida, sentiu prazer em dobro. Possuiu-se duplamente, da maneira que os homens nunca souberam como. Ou como nunca souberam que.

Dali pra frente tornou-se refém de si. E nunca mais deixou de sorrir.

6 comentários:

Fê Seixas disse...

Adorei seu blog!!!!
Você escreve muito bem.
Tenho um outro blog mais parecido com esse seu: www.onmymind.blogger.com.br
Aparece por lá ;)

Deia Vazquez disse...

ih, te comi.

Luciana Gondim disse...

Agora sim, agora sim, acho que a bolsa vai romper!

Confligerante disse...

Me lembra até o livro "Noturno" de Ana Miranda. Como Homem sinto esse seu texto uma construção maravilhosa. E úmida. Parabéns pelo orgasmo.
Se me dá licença.
Uma abraço
João

Fel disse...

Sabe, parece que vc rodeia e rodeia o prazer. Mas só rodeia. Muitas metáforas da carne e do prazer, mas metáforas. Eu gosto de ler, mas fica uma sensação de incompletude. Um dia, gostaria de ler sobre o seu ser não etéreo e metafórico. Vc é linda, escreve belamente, mas fica uma sensação de que se está nas bordas do que vc deseja realmente dizer, ... fazer, talvez.

Fel disse...

Ah, este último comentário aí em cima é do Felipe, seu visinho, e conhecido lá no Meireles ...