sexta-feira, dezembro 22, 2006

Da vaidade de ser burra

Meu pecado capital sempre foi a vaidade. Intelectual, especificamente. Queria respeito, e mesmo admiração, pelas minhas idéias, divagações, projetos, histórias e sonhos; ainda que eu mesma mal digerisse minhas próprias idéias, divagações, projetos, histórias e sonhos. Coincidência ou não, sempre fui tida como alguém inteligente, muitas vezes sem precisar abrir minha boca, o que me deixava tão vaidosa quanto intrigada – afinal, uau!, meus neurônios regados a ovomaltine deviam espirrar no ar e induzir as pessoas ao veredicto que me favorecia. No entanto, acho hoje que a explicação é muito simples. Eu provavelmente me esforçava pra fazer cara de conteúdo. E acabava colando.

Tem um problema nisso tudo. “A porta do inferno é larga, do céu é estreita”, tá escrito na Bíblia há séculos (mesmo!). “Toda unamidade é burra!”, bradou Santo Nelson. E a conclusão: eu não só fazia pose, como precisava mantê-la, tudo pra ter, no fim das contas, um rótulo garantido por unanimidade. Uma conquista preocupante...(Me lembrei do conceito de tirania, sobre o qual escrevi num blog velho que anda perdido nessa virtualidade sem porteiras).

Pensando bem, eu querer me sentir “a mais inteligente” é de um egoísmo muito grande. Porque no dia em que, apesar de todo o meu esforço pra fazer cara de conteúdo, eu for considerada medíocre (pelo menos!), isso significará que, em termos comparativos, a humanidade anda menos imbecil. Motivo de comemoração!

Pois enquanto isso não acontece, eu ando me divertindo com um novo pecado: parecer uma / fazer cara de burra. Já comecei cortando a franja, porque imagem é tudo e vi que convenço mais (me pareceu, simplesmente) sendo uma burra de testa parcialmente coberta. Vai ver influenciada por dizeres dos tempos da infância, quando as testudas da escola respondiam às zombarias alegando que a protuberância era sinal de inteligência (alguém aqui se lembra disso?).

Que sensação de liberdade... já começo a colecionar uns olhares de desdém. São zeros estatísticos, bem verdade, mas é que ainda estou em fase de aperfeiçoamento. Minha meta é, com uma atuação restrita e localizada, chegar à unanimidade inversa àquela que outrora desejei. A ambição me parece cheia de sentido. Vamos ver no que dá. Por enquanto, me sinto ótima.

2 comentários:

Deia Vazquez disse...

Dicas: calcas mais atochadas, varias pulseiras (vai explicar), olhar direcionado para cima e de ladinho e responder com "ahn?". Melhor q bancar a burra eh bancar a muda.
LOL

A digestora metanóica disse...

menina, você não está entendendo! o "ahn?" agora é essencial no meu vocabulário. LOL