Terça-feira passada, momento mágico: minha primeira apresentação. Minutos antes, coração acelerado, medo de errar, pavor dos tantos olhares ao redor. Mas depois que a luz cai e se inicia a música, o mundo some, como definiu a Si. Resta você, seu corpo e a dança.
Comecei as aulas de jazz e balé moderno aos 22, há dois anos atrás, sem qualquer histórico de envolvimento com dança na infância ou na adolescência. Na época, primeira constatação: aos vinte e poucos anos se é jovem pra quase tudo. Quase, mas não tudo.
Se entrei numa turma de adultos iniciantes? Não mesmo. As meninas contavam cinco, dez, quinze, até vinte anos de dança. Só a Quel se iniciara havia apenas dois e, não por acaso, foi quem mais me incentivou a não desistir nos seis primeiros meses – prova de fogo, segundo ela.
Primeiro, o desconhecimento: quem é aquela desajeitada no espelho? Linguagem outra... En dedans e en dehors. E também demi-pliés e grand pliés. E ainda rond de jambes, à terre e en l’air. Mais: battements, tendus, jetés, développés, fondus. Attitude, croisé, arabesque, piqué, pirouette, chassé, fouetté. Pas de chat e pas de deux. Changements... Muitas, muitas mudanças.
Início de corpo que não responde, mesmo que a cabeça entenda. Aos poucos, você vai se descobrindo, partes desde sempre adormecidas despertam, reagem, se sentem vivas, depois mais fortes e, logo, abusado, o corpo pede: quero dançar! Pronto? Que nada. Porque aí, nessas primeiras respostas do corpo, tornei-me apta a perceber uma infinidade de outros desconhecimentos. Agora, pelo menos, há a mínima capacidade de notar melhor aquilo que não sei.
Por que não desisti? Ora, percebi a tempo que não é sempre que se tem oportunidade dessa de ser criança e achei por bem vivê-la. Na verdade, eu não era velha demais pra começar a dançar. Eu era é criança demais. Numa turma de crianças, são todas igualmente crianças. Ali, no espaço amadurecido, a infância naqueles movimentos era exclusividade minha. Talvez por isso as outras meninas me adotaram, e me incentivaram, e me socorreram. Método Paulo Freire de dança, assim apelidei...
Tratei de aproveitar a sensação de tornar a engatinhar – com a vantagem da consciência pra perceber os progressos e me encantar com cada um deles. O saber, não importa de que natureza, costuma despertar um fascínio guloso: queremos degustá-lo, sorvê-lo, devorá-lo. Mas criança ainda banguela mais olha, brinca e ri. E não se assusta com mistério - mais se maravilha e o respeita. Quando sabemos tanto, e devoramos tudo, às vezes perdemos a potência e o impulso do pasmar...
Outras experiências: presente bem vivido! Com fazer, tentativa e muito erro. Descouberam lamentos pelo passado de infância e adolescência sem balé; inoportunos todos os pensamentos e as dúvidas acerca de palcos futuros. Como eu disse uma vez, a maior parte do caminho é sempre feita de trajeto. Há mais ir que chegar. E, assim, apenas fui, apenas vou...
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5 comentários:
Por quem te tomo? Como assim?
Mesmo assim, uma jovem complicada, inteligente e refinada, ou seja, nada comum nos dias de hoje, ainda mais aqui pelas bandas de Cascavel.
Eu simplesmente me interesso por "gentes" complicadas e livros.
Daí o cultivo desse pequeno diálogo.
Um Abraço em você
João
Ser complicada não é nada de negativo, pelo contrário, talvez a palavra certa seja sofisticada, e não me leve a mal, você é dos livros sim e sempre vai ser e escreve bem, daí a certeza de não perder o interesse que você e sua literatura me despertam.
Não, eu não vi nenhum deboche no post sobre o meu colega Jacy, muito pelo contrário, gostei e muito.
E mande lembranças minhas pra ele, se ele ainda estiver por aí.
Um abraço
João
Gi, adorei o texto... que bom ler você, e que bom ler você nesse contexto tão intensamente desejado, porque hoje não estou dançando, mas acabo vivenciando essas emoções através de você e do seu entusiasmo. Nunca se é velho para começar nada, eu sei muito bem. Principalmente a dança, porque ela nasce muito antes do corpo... ela nasce na nossa alma, e transborda... Mas eu vou voltar logo, porque descobri que preciso disso quase tanto quanto respirar...
beijos,
Si.
Het is erg mooi geschreven volgende keer mijn verhalen!
dikke kus dennis
dennis, babe, my online translator is not as good in dutch as i thought it was. could you kindly comment in english?
beijos
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