sábado, dezembro 17, 2005

Eu, por mim mesma - Tomo terceiro

"Haja caixa pra tanto espetáculo"

Poucas vezes me vi amando. Já tentei inventar mil amores, mas sou exigente demais na hora de me iludir. A fantasia da cabeça voa até se esbarrar na coerência do meu sentir.

O “autor da frase” (último relacionamento duradouro que deixou de durar) tinha a cara de sonhos há muito gestados. “Nunca te vi e sempre te amei”. E eu achava que isso era uma doença a ser curada.

Hoje, penso que meus raros amores me serviram de caixas. Por conta da raridade dos meus amores, acumulo peças até encontrar uma caixa que eu julgue capaz de receber toda a minha capacidade de doar. Eu acumulo tanto pra dar muito depois. É por isso que não funciona. As poucas pessoas que amei foram as caixas escolhidas para entulhar de minhas sensações guardadas. Deve mesmo pesar.

Tudo fermenta dentro de mim, até o momento de oferecer. Eu mesma me deleito com aroma e sabor do que está há tempos engarrafado. Como aprovo tudo, é óbvio que recuso a desfeita de não ser de(gustada). Minha vaidade capital é pecado...

O “último absoluto” foi a melhor caixa que encontrei. Certa de que precisava me desvencilhar dos meus modelos, mantive a idéia fixa de me surpreender. E aconteceu. Sem pensar em nada, nesses esbarrões do acaso, encontrei nele o depósito para o que eu imaginava ser o melhor de mim.

Uma vez eu lhe disse que não sabia se gostava de estar com ele, ou se gostava de mim mesma quando ao seu lado. Palavras que exemplificam minha maneira egocêntrica de amar.

A caixa, pra completar, era espelhada. Nela, eu amava contemplar minha cara de amante. Tantas pessoas passam por mim sem que eu as ame que quando acontece é festa, palco, filme, aplauso. Um pouco circo também. Nessas horas, corda-bamba e nariz de palhaço é comigo mesmo.

Haja caixa pra tanto espetáculo...

6 comentários:

liliana miranda disse...

... e vi a mim no meio destas palavras..;)
beijinhus

A digestora metanóica disse...

lualil:
que bom! identificação é sempre gostoso.
Beijos

Jimmy Sudário disse...

Ah menina Gisa, sua sensibilidade em expressar seus sentimentos é no mínimo encantadora. Sabe que sempre leio seus textos, e existem alguns que são lugar de síntese para uma seqüência de experiências lúdicas que tenho nas sucessivas leituras que faço de você. Por isso escrevo. Saudades.

lombriga disse...

antes a alusão à bebida que à caixa.
pois o degustar de um bom vinho exige sensibilidade, conhecimento e um fino paladar.
já uma caixa bem pesada, algo como um estivador ou troglodita...

lombriga disse...

Ah, e antes que fique se perguntando, "quem será esse parasita folgado, que fica dando palpites em minha digestão?"...
um amigo de tempos, e grande fã.
dia desses você me decifra.
enquanto isso, só um 'cadinho de mistério...

A digestora metanóica disse...

jimmy:
fiquei curiosa pra saber detalhes dessas experiências lúdicas! Você deveria ter um blog pra contar.
Sinto saudades também. Sua presença aqui me conforta.

lombriga:
vai ver essa é a grande contradição e o grande desencontro. Eu me sinto como vinho, exijo delicadeza, mas, no fim das contas, só faço caixas pesadas. Talvez daí surja um embrutecimento que me machuca...

É óbvio que estou curiosa. A parasitária participação mais parece simbiose. Meu estômago e intestino já precisam de você!