terça-feira, dezembro 13, 2005

Eu, por mim mesma, em sete tomos

Prelúdio:

As duas últimas semanas foram de pequenas das minhas intermináveis descobertas. Por isso, não me incomoda a idéia de que as próximas postagens versem sobre o meu umbigo. Escrevi antes textos igualmente “umbiguistas”, mas recentemente apaguei-os todos. Pode ser que eu venha a apagar os que, agora, penso em escrever. Mas, neste momento, o meu umbigo importa.

Eu por mim mesma – Tomo primeiro: "Cheiro de amêndoas amargas"

“Volte a ler um livro atrás do outro, faz bem à nossa relação”. O autor da frase é um ex-namorado. Lembrei muito do conselho dele nos últimos dias, porque concluí que, atualmente e há tempos, quem estiver comigo precisa ter a sensibilidade de adaptar a exortação para “não deixe de escrever”.

Andei apaixonada (e já não me refiro ao autor da agora célebre frase). Nunca disse isso a ele, porque odeio ser óbvia. Bastava a obviedade da minha paixão. Engraçado como paixão não me inspira: me paralisa. Meu sentir transforma impulsos cerebrais outrora úteis em abstrações indizíveis que, por isso mesmo, castram palavras. O apaixonar me idiotiza. Minha criatividade vai pras cucuias. E eu odeio ser óbvia, e odeio me repetir, como agora. Resquícios de paixão...

Até aqui - salve meus 24 anos! - tive poucas paixões. Falo de paixão mesmo, não dessas minhas invenções de que me utilizo para escrever boas histórias. Afinal, o apaixonar me idiotiza e, quando idiota, não escrevo boas histórias.

As duas últimas paixões, o já remoto autor da frase e o último absoluto, eles eu acho que amei. Só digo que me apaixonei pra, de alguma forma, desmerecer o que senti. Mantenho a crença de que o amor não me faria esbanjar tanta lágrima vagabunda. Mantenho a crença pra doer menos, pensando no dia em que amarei.

Os dois tiveram a criatividade de não me amar. Daqui por diante, quem fizer igual já não tem o mérito da originalidade. Não que isso signifique muita coisa, pois basta que eu me apaixone. Afinal, o apaixonar me idiotiza. E me torna repetitiva o suficiente pra ser óbvia outra vez.

O autor da frase costumava dizer que eu vivia “digerindo” tudo e que um dia eu escreveria um livro: “eu, por mim mesma, em sete tomos”. Depois que a paixão acaba, tudo vira inspiração. Hoje, me valho do título debochado de anos atrás pra me inspirar escritos, não sobre ele, "o autor da frase", mas sobre "o último absoluto". Esse não deixou qualquer sugestão de título para a posteridade. Ele não ligava pra esse negócio de literatura. Ele só lia as figuras.

Eu por mim mesma – Tomo segundo: "Um diagnóstico sentimental"

Nos últimos quinze dias, parei para não parar de vez. Há duas terças-feiras acordei em prantos, com dor no peito, respiração curta e taquicardia. Desespero acumulado por conta da falta de concentração e da exaustão que me distanciam de definições que me levariam ao descanso.

Depois de vários dias chorando, chegou a hora consulta. Falei da dor no peito, da falta de concentração e da taquicardia. A médica me perguntou se eu desconfiava do motivo de tudo isso. “É muita coisa. Necessito de recomeço”, respondi. Aos poucos, enumerei as muitas coisas: quatro anos sem férias, vontade de independência inversamente proporcional à minha estabilidade profissional, minha mente megalômana cansada. E todas as outras miudezas que se agigantaram nos últimos tempos devido a esses três principais motivos.

A doutora concordou que era muita coisa. Mesmo assim quis saber mais: “E o coração?”. “Se recuperando de um 'amor contrariado'”, disse eu, floreando com García Marquez. Ela deu uma risadinha, fez cara de quem sempre adivinha tudo e concluiu: “Quando o coração vai bem, o resto fica mais fácil”.

Se eu soubesse, desmereceria o amor.

6 comentários:

Anônimo disse...

sem comentários, então.
que tal um caldinho de feijão?
beijos
mônica

A digestora metanóica disse...

Mônica, meu anjinho de plantão, como sempre.
Domingo é um bom dia pra caldinho, você já sabe...
Beijos

Anônimo disse...

Tenha certeza: seu umbigo importa a muita gente, nunca pare de umbigalizar.
e também não pare de digerir!!
primeiro você digere um monte de coisas gostosas. nós, parasitas, nos alojamos por aqui, ávidos por saborear um pouco de tudo que vc rumina. e então você nos deixa à míngua, famintos por algumas migalhas... tenha dó!

A digestora metanóica disse...

Lombriga, isso é que é parasitar saudavelmente!
Adorei!
Beijos, mesmo sem saber quem você é.

Anônimo disse...

Gi, foi ótimo "rever" vc há pouco no msn. Não me aguentei e resolvi dar uma lida no seu blog e resolvi começar lendo a sequencia de tomos da sua vida. Muito bom! Até quarta q vem terei lido td, vc vai ver. Bjs e saudades.

A digestora metanóica disse...

Eric, foi realmente muito bom "falar" com você depois de tanto tempo.
Quer dizer que na quarta você terá lido tudo? Vixe Maria... rs
Beijos