quinta-feira, dezembro 22, 2005

Eu, por mim mesma - Tomo quarto

"No torpor do meu delírio torpe"

No recesso de tudo, durante os já falados quinze dias, li dois livros, ambos por indicações queridas. O primeiro, “A casa das belas adormecidas”, do Yasunari Kawabata, surgiu na conversa de mesa antes do cinema. Foi o que inspirou o Gabriel García Márquez em “Memoria de mis putas tristes”, o qual li no início do ano.

Dê discorreu poucos minutos sobre a obra. Suficiente para eu passar na livraria, depois da sessão de "Broken Flowers", e comprar um exemplar. Pedi que ela escrevesse uma dedicatória. “Por uma juventude menos ordinária; para uma velhice plena de alegrias, risos, acasos e lindas recordações. Que todos os nossos encontros e desencontros sejam como esse”. Palavras que ganhei.

O segundo foi indicação da Lili, que viu semelhanças entre meu jeito de escrever e o estilo da autora. O sugestivo título é "Ao homem que não me quis". Guardo a inspiração para os próximos tomos.

*****

O velho Eguchi, personagem experienciador, ao dormir com virgens dopadas, impedido de penetrá-las, faz de seus corpos catalisadores de lembranças. A vida é um amontoado de saudades. Em estado adiantado, tudo se acumula até doer...

Ora cheiros, ora toques; por vezes gosto, algumas rememoradas imagens. Ao som de ondas e rochas despudoradas que se esfregam naturalmente. O velho Eguchi, em suas experiências dos sentidos – propiciadas por aromas, cores, texturas, suspiros e sabores de suas belas adormecidas – , radicaliza a minha experiência de criação de caixas.

Elas, as belas, existem para que Eguchi viva suas melhores lembranças, seus acúmulos de fim de vida. As belas não precisam estar despertas para despertarem saudades esquecidas. Melhor até que não. Com as minhas caixas pesadas, amores são devaneios de embriaguez que dura até passar.

Com a leitura, roguei pela existência de quem me desvelasse; um corpo adormecido, no torpor do meu delírio torpe, que me lembrasse do muito amor que tenho, que esbanjo, e que só dou pra quem não pede. Que acumulo até explodir com juros, em juras.

Esconjuro. Juraria pelo sagrado para não precisar depender do pressuposto cruel de ser amada. Existindo quem me ame, me envaideço. Na ausência de quem me sinta, minha ira é dádiva.

A caixa, o depósito de meu sentir pesado, quem quer que seja, melhor que reste entorpecido, para não julgar as irrealidades dos meus ideais dopados.

2 comentários:

Anônimo disse...

ual

A digestora metanóica disse...

Um anônimo exclamativo...
Abraços!