Bela M. sofria de estreitamento da visão periférica e aprofundamento do olhar perdido, por isso esbarrava nas pessoas e atropelava as coisas. Às vezes não ouvia e muito calava. Mas, com seu jeito desencontrado, sempre se achava.
Desembestada e descabida, andava na rua franzindo o cenho e falando sozinha, uns dias sorria, em outros até gesticulava. Não era de se entristecer, mas, para se manter afinada com suas sensações, de quando em quando chorava escondida, com direito a beiço e soluço, mãos nas têmporas e maquiagem borrada, peito arfante e cara amassada. De repente, encontrava nova esperança, enxugava o rosto e seguia do seu jeito, sempre ensimesmada, meio boba e pra lá de distraída.
Era mais um belo dia de Bela M., ensolarado e dolorido de tanta luz a iluminar seus escondidos brilhos. Foi quando ela se deu conta de que andara sonhando em demasia e resolveu buscar a cura para seu olhar extraviado. Decidiu buscar respostas e soluções, mergulhou em si, afogou-se e desfaleceu, sufocou e morreu. E como sabia muito bem ressuscitar, voltou a vagar pelo mundo, destrambelhada e decidida, cheia da nova vida.
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Em 8 de novembro de 2008
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
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3 comentários:
Gostei muito!! Acabo de conhecer a palavra metanóia e pesquisando sobre o assunto encontrei com Bela M. Muito bom!!
É uma palavra encantadora, não?
Muita metanóia (sem paranóia) pra você então!
Gifele, qualquer semelhança é mera coincidência?
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