terça-feira, julho 22, 2008

Adaptação

Às vezes tenho a sensação de que o ápice da criação é o princípio do clichê. Quem faz algo inovador, por mais que não seja hostilizado pelos seus contemporâneos, ainda assim corre o risco de ter sua imagem pra sempre aprisionada em uma criação.

Gosto dos heterônimos. Ouvi dizer que os artistas japoneses são os mais afeitos à idéia de mudar de nome para impedir, ou pelo menos inibir, a rotulagem das suas criações.

Amor tem disso também. No momento do encontro há boas doses de futuros motivos para o desencontro. Uma simples vontade de mudança de um vira o desespero do outro.

O mundo está cheio de pessoas pouco afeiçoadas a transformações.

3 comentários:

Aninha T. disse...

Oi, Gi!
Quanto tempo!
Adorei seu post!

Assisti ano passado a peça A Alma Imoral... vc viu? Fala muito sobre almas que vivem constantes mudanças, transformações... tem o livro, recomendo, boa leitura!

Tem dois trechos que amo e que vou colocar aqui pra vc, tá?! Meio grandinhos, mas espero que vc goste!

Sobre relacionamentos (no caso, casados):

"Quando um cônjuge esboça transformações em sua pessoa, implicando transformações na relação, o outro muitas vezes cobra justamente os compromissos assumidos, dando um passo para trás. Não reconhece que seus direitos de apego não têm o menor valor numa relação em que o compromisso explícito é o relacionamento. Se, numa relação, alguém se modifica, o pacto é este: todos devem se colocar em movimento. A reação de dar um passo para trás - expondo carências, coletando justificativas ou evocando direitos - é um apego que, em si, é a maior das traições ao sonho assumido em pacto. (pg 31)"

Aninha T. disse...

Sobre mudanças e sociedade:

"Transgredir é transcender, e nossa história não teria mártires no campo político, científico, religioso, cultural e artístico caso fosse possível transcender sem colocar em risco a sobrevivência da espécie. (...) Se por sede de poder alguém rompe com o senso comum da melhor ordem para preservação e reprodução de nossa espécie, é um fora-da-lei. O traidor, por sua vez, é um transgressor. Ele propõe outra lei e outra realidade. Se alguém rompe com a estrutura tradicional de família, se pode ser caracterizado como um perverso, este tem seu lugar garantido na sociedade. Ele é o que não se deve fazer. (...) No entanto, se o rompimento com a estrutura familiar é acompanhado de um desejo de legitimação dessa conduta, esse indivíduo é inaceitável e um bom candidato ao martírio. (pgs. 18 e 19)"

Confligerante disse...

preciso urgentemente voltar a ler essa mulher, estou sem tempo e ao mesmo tempo lendo bem.
mas vou voltar a ler te .
Continuas afiada como a navalha fria, e o pior é que a navalha fria corta fundo e não faz dor, mata sem doer...
um abração em ti