terça-feira, janeiro 16, 2007

Tudo sobre minha calcinha preta

A Beca me ligou ontem às dez da noite. Disse que eu estava sumida, tal, mas não fez muito rodeio e mandou:

— Gi, você esqueceu uma calcinha preta aqui?

Resposta afirmativa. Ela pediu detalhes:

— Mas como é exatamente a calcinha?

E eu descrevi.

— Pois esse filho da puta aqui do meu lado escapou de morrer agora. A sorte foi que ele me lembrou que você ficou com o apartamento no Ano Novo, quando estávamos em Salvador.

Tivemos uma crise de riso.

Mas a história está longe de acabar por aí. Alguns dados: a Beca é a namorada do Dés, que me emprestou seu apartamento em Ipanema para o Réveillon. O Dés e eu namoramos durante um ano e meio, de agosto de 2002 a janeiro de 2004. Mais que amantes, fomos grandes amigos. Parceiros. Cúmplices. Mas, quando decidimos que não seríamos mais um casal, não teve jeito de salvar amizade, parceria ou cumplicidade. Tudo irremediavelmente perdido, parecia, até que, quase dois anos depois, bati à sua porta. Era o Natal de 2005, eu havia acabado de dar de cara com o meu último amor, num bar na Praça Nossa Senhora da Paz, que estava acompanhado. Naquele momento, pensei que somente um reencontro com o meu passado me livraria de um doloroso desespero. E eu não me enganei...

Quando o reencontrei, vi encarnadas as respostas pra tantas das minhas perguntas. Os questionamentos se tornaram desnecessários e eu me compreendi. Revê-lo me proporcionou instantâneas lições que, hoje, guardo no bolso, no peito e em todos os cantos de mim. Como eu escrevi dias depois que tudo aconteceu:

"Naquela hora e meia, tudo fez sentido. Eu, que nunca entendi por que a gente ama tanto pra acabar, compreendi finalmente que algumas reações de amor, desencadeadas, explodem no infinito, pra salpicar o universo. Ejaculação de um aparente caos que engravida o cosmo e gera beleza. Porque 'a beleza salvará o mundo'.
(...)
Durante aquela conversa de portaria, fez muito sentido amar. Não para se ter algo, mas para engravidar o mundo de beleza. Eu senti muito orgulho porque um dia dediquei tanto amor a um cara tão bacana. Simples assim."


A amizade foi resgatada, de uma maneira — me atrevo a dizer! — ainda mais bonita. Passamos juntos o Reveillon de 2005, na festa em que conheci muitos de seus novos amigos, que só dois meses depois souberam do nosso namoro no passado. Combinamos assim. Não fazia sentido me apresentar como ex, com um rótulo desses. Amiga e pronto, e sempre. Seus novos amigos (que não eram da “minha época”) me acolheram, entre eles a Beca. E passaram a me convidar para todos os programas. Dois meses depois, quando resolvemos contar o “detalhe” (para evitar uma futura confusão, porque a Beca se apaixonara pelo Dés, o Dés por ela, e o primo dela por mim), até que levaram um susto, mas aí já não importava mais. Em pouco meses o Dés estava namorando com a Beca, e ela já gostava tanto de mim, e eu dela, que não nada podia mudar isso.

Obviamente que muita gente mal consegue disfarçar o espanto . “Você pegou a chave do apartamento do ex? Mas e a namorada dele? Não fala nada? Vocês são amigas? Que gente mais moderna...”. Quando cheguei de viagem, em novembro, os dois me convidaram para um almoço no meu primeiro final de semana aqui. Outros amigos do Dés estavam presentes — desta vez os antigos, os da “minha época”. As pessoas se entreolhavam muito, flagrei tantos cochichos que, então, resolvemos nos pronunciar, a Beca e eu: “É, a gente se gosta”.

Na verdade, tem uma parte nisso tudo que não me agrada: a Beca acabou com uma das minhas diversões favoritas, que era falar mal das atuais dos ex-namorados, ou das ex-namoradas dos atuais. Porque a Beca, além de ser doce, sensível, amiga, falar com um sotaque baiano muito do charmoso, ser atriz e também cantar de um jeito lindo, ainda tem um metro e oitenta e é belíssima.

Pois então. Depois de ter passado quatro noites no apartamento emprestado, minha calcinha preta, esquecida no varal no dia 2 de janeiro, foi parar na gaveta da Beca. Quando ela viu, acordou o Dés aos sacolejos, pedindo satisfações. Mas, afinal, tudo se resolveu: a calcinha era da ex.

3 comentários:

Anonymous disse...

"que gente moderna".... hehehehehe
vc sabe o quanto eu já ouvi isso!!!

beijos tonta!

Anonymous disse...

Gi, meu amor, eu entendo muito isso porque vivo a mesma coisa de tempos em tempos, guardadas as proporções, óbvio. E com um agravante que você conhece. As pessoas também nos chamam de loucos. Não acho que seja loucura e, mesmo que fosse, a vida sem isso seria sem graça. Enfim, somos modernos ou somos normais?

माया disse...

Nossa, sabia onde iria parar daqui a dois anos. mas, foi estranho ver já descrito aqui, o que sempre foi e sempre será: quem ama, quem se apaixona com coragem, tem quase todos os seus de volta como amigo..uns antes..outros depois...hahaha