quarta-feira, junho 21, 2006

Ao canário laranja

A tua primeira visita ao Brasil da mamãe – e da tia que agora narra a história – durou apenas 30 dias. Aqui te conheci quando você contava três meses de vida. Amor logo de cara, apesar do teu berreiro no nosso encontro. Com toda razão, aliás: mais de dez horas para cruzar o Atlântico, conexão em São Paulo, chegada ao Rio, finalmente. Os outros passageiros cumprimentaram tua mãe depois da aterrissagem em solo tupiniquim. Elogiaram tua calma, teu silêncio, tua paciência madura na viagem gigante demais para um bebê. Sabendo disso, apoiei quando o choro veio, tardio e guerreiro.

Dia seguinte, conheci teu sorriso pra mim. Cheguei a me emocionar, viu? Mas depois descobri o vira-latinha que você era, de riso fácil, pra qualquer um, pra quem quisesse. Pequeno desse jeito e já entendendo tudo de democracia, já sabendo compartilhar o teu melhor.

Você não engatinhava ainda e o teu vovô dos trópicos, também misturado, nascido de ventre italiano fecundado por índio brasileiro, torcedor mais verde-amarelo que azzurro, já caprichava na lavagem cerebral. Era o tempo inteiro: “Gol! Gol! Basil! Basil!”. E num é que deu certo? Dia desses, mais de um ano depois, época de Copa do Mundo e briga pelo hexa, vi pela webcam: a gente fala “Gol! Gol! Basil! Basil!” e você levanta os bracinhos e cai na gargalhada. Teu pai, coitado, se esgoela no “Doelpunt! Doelpunt! Holland! Holland!” e você nem se mexe.

Hoje tem Holanda x Argentina. Deixa eu te contar duma vez: há uma rixa entre brasileiros e os hermanos argentinos. Tua tia aqui tem dessas coisas não, queria mais era ver essa América Latina unida, na luta pra estancar o sangue que jorra das veias abertas e compartilhando também vitórias nessas festanças que o mundo inteiro assiste. Mas, minha miniatura de conquistador, por você, hoje, eu sou laranja. De pintar o rosto e tudo, tirar foto e guardar pra posteridade. Pra assim tentar retribuir, agradecer de alguma forma pela felicidade de te ver virando a casaca com tanta empolgação.

Mas se tiver um Brasil x Holanda, meu amor, eu vou levantar os braços no mesmo instante que você, e assim estaremos juntos. Só espero que não silenciemos juntos após um indesejável grito de “doelpunt”...

4 comentários:

Cláudia Lamego disse...

Gi, fiquei emocionada! Esse amor é incondicional, sem fronteiras, cheio de exceções...enfim, lindo!
Sabe que a mãe do Pedro era Flamengo mas mudou de time quando o meu amorzinho entrou em campo como um daqueles mascotes do time do Botafogo? Imagine que coisa linda...

Luciana Gondim disse...

Que linda declaração de amor...Precisa dar de presente para ele quando o menino completar 18 anos. Lindo!

Perecila meu amorr disse...

Gi que lindo esse texto!
Não sabia que vc escrevia tão bem, to louca pra ler sua monografia agora.

beijos

E a dama?? Quando vamos??

A digestora metanóica disse...

clau:
esses conquistadorezinhos conseguem cada coisa de nós...
uma linda virada de casaca essa da tua sogra!
beijo

luluzinha:
espero que ele saiba bem o português. sempre penso nisso qdo escrvo algo pra ele.
saudade!

perecila:
que bom que vc gostou! adorei a visita!
olha, minha monografia é algo, digamos, bem menos poético! hehehe
dama no sábado? hehe
beijos!