quarta-feira, abril 06, 2005

Cachaça com cianureto, por favor!

No fim da aula, a professora pede para eu esperar. É perigoso andar pela rua às dez da noite. Vamos para o mesmo lado, uma acompanha a outra, se é que isso serve de alguma coisa. Não deve mesmo servir. Não serve. Mas deixa pra lá. Quase chegando no ponto de ônibus, barulho de tiros. Muitos tiros. Continuamos andando, então o barulho ficou muito próximo. A minha única reação foi me esconder atrás da professora. Isso mesmo. Eu quis evitar uma bala perdida lançando mão de um escudo humano, a minha professora de Ética. Cena patética, eu fugindo dos tiros. Rimei ética com patética, sem querer. Sem querer, mas rimei. Minha ética deve ser patética. É, já sei. Por que uma bala daquela não me acertou? Eu já morri de vergonha... Imagina se uma bala me acerta? Coitada da professora, que seria obrigada a lamentar.

Carrego uma culpa. Certa vez um professor foi assaltado porque parou para me dar carona. Levaram carro importado, relógio caríssimo e uma boa grana. De mim nada. Três alunas perderam suas bolsas. Comigo nada. Eu não perdi nada. Ganhei a certeza de que professor que anda comigo tem que, antes, andar com galho de arruda. E pé de coelho. E água benta. E figa. Duma figa...

A culpa duma figa já não basta. Agora a professora-escudo. Eu nunca basto. Desconcertada, tentei concertar. Teve jeito? Teve jeito. Só de piorar. Fiz que não ouvi nada, o medo passou. Foi embora junto com a indignação, com o senso crítico. Ficou a culpa. Se antes me protegi, fui tentar proteger: “Espero ônibus com você”. Mudei de assunto, violência não é nada. Nada? Que nada... Já morri, de mosca morta. E nem precisei ser baleada.

Acho que mereço ser reprovada em Ética. Se eu fosse a professora, era o que eu faria. Faria? Nada. Hoje eu perdôo de graça. Não que eu costume cobrar para perdoar. Eu sempre cobro de graça. Posturas que não tive. Mas hoje a misericórdia está em promoção. Porque eu nem consigo parar de rir. De rir por não existir, porque acho mesmo que morri. Morri de vergonha e, agora, morro de rir. Vocês não viram o que eu me vi...

5 comentários:

Deia Vazquez disse...

Hilário!
Da próxima vez vê se sai do IACS com umas figurinhas mais indesejáveis. hahahahahaha
Vc queria morrer no macio, qual é o problema?
hahahaha

Anônimo disse...

Ah, quero saber direito dessa história...pq normalmente vc sai da aula de Ética acompanhada por mim!! Será que vc se esconderia atrás de mim...??
Huummm, e garanto que a dita professora fez algum comentário sobre o incidente...ela quase nunca consegue ficar calada. Quero saber! Quero saber!

Bjos, Cla

A digestora metanóica disse...

o micróbio:
O problema é que a anedota que sou se baseia sempre em fatos reais.

deianowhy:
Nem me fale... fico pensando por que nunca saí do IACS com o Luiz Carlos Lopes ou o Telmesso... se bem que este último nem entra, não tem como sair.

ritinha:
Pra você ver... logo a professora de ética!

Clarissa:
A história é esta mesma, pelo menos você leu a minha versão. Se quiser saber a dela, chegue pontualmente às 20hs hoje, porque eu tenho certeza que ela vai comentar. Eu vou chegar 20 minutos atrasada, como sempre, por causa da aula de balance. Aliás, vai ser uma tristeza abrir a porta e ver que estão falando de mim.

Icecube:
Ai, que humor negro, migo!
Em todo caso, o problema na baixada foi a polícia. Aqui o lance é a "rapeize" mesmo.
Você é um amigo maravilhoso! A resposta é quase automática.
Também te amo!

Anônimo disse...

Vagando pelos blogs, sem te ro que fazer, acabei esbarrando nessa postagem...

Achei bastante interessante o jeito que você escreve e expõe os fatos...

é, se eu fosse seu professor de ética eu te reprovaria na mesma hora!

Anônimo disse...

Ah, e por acaso vc tem uma postagem com quase o mesmo nome do meu Blog...

"Eu, por mim mesmo"

legal...