terça-feira, fevereiro 22, 2005

Todo mundo nu!

Eu confesso, tenho um vício: não consigo parar de olhar para o rosto das pessoas na rua. De uns tempos para cá, venho me aperfeiçoando na prática. Meus óculos escuros têm as lentes cada vez mais escuras e as armações cada vez maiores. Tenho caprichado na minha postura de pretensa bailarina, mais esguia que nunca, queixo levantado, para me dar um ar insuspeito, quase esnobe. Algumas características físicas, como cabelos negros e pele branca, incrementam minha aura blasé. Uma maneira sutil de mexer as mãos, um caminhar distraído, um cantarolar disfarçado, e pronto! Estou preparada para observar sem ser notada, e me divirto muito com isso...

Antes, me detinha nos traços, nas cores da pele, nas formas. Ultimamente, desde minha decisão de facilitar minha vida e só me vestir de jeans, preto e branco, percebo cada vez mais as roupas e acessórios também. Eu achava que as cores perturbavam só a mim. Que nada, a diferença é que eu admito, e simplifico. As vitrines das lojas estão mais rosas que nunca, laranjas, amarelas, e, principalmente, verdes. No afã de obedecer às regras da moda de consumo de massa, as mulheres enlouquecem com as bolsinhas cor-de-rosa e as sandálias alface. Depois surge o problema: o de combinar tudo. O resultado dá desgosto, e isso não quer dizer que eu esteja me candidatando para o esquadrão da moda, porque acho que essas “tendências”, além de me serem completamente alheias, são escravizadoras e seguem a uma lógica torta. O desprazer está em constatar o excesso confuso de elementos, um certo caos que, pior de tudo, é aparentemente ordenado e, mais uma vez, cor-de-rosa.

Deixando um pouco as ruas e indo para as passarelas, Rio e São Paulo Fashion Week viraram tema da conversa de bar de dois domingos atrás. Concordo que ver os desfiles comentados do GNT Fashion vicia, e é do caramba escutar a explicação de quem pensa as coleções. A primeira entrevista que fiz com uma estilista me deu calafrios, porque eram muitas referências desconhecidas. Tive que fazer uma pesquisa sobre Milão, e me inteirar sobre Gucci, Versace, Gianfranco Ferré, Dolce & Gabana, etc. Foi ridículo eu lá, com cara de entendida, interagindo e falando das vitrines da Via della Spiga e da Monte Napoleone, vestindo minha camiseta Hering, calça jeans, bota e usando uma bolsa completamente hippie, porque uma hora depois eu estaria fazendo outra entrevista, na favela da Rocinha.

Bem, apesar do constrangimento inicial, gostei muito da conversa, saí do atelier da mulher não só aliviada, mas até achando tudo bem bacana, superconceitual. Assistir as entrevistas do GNT com os designers dá essa dimensão do conceitual, e daí cheguei a uma conclusão: as modelos seguem um padrão necessário de, por elas mesmas, não significarem nada. E tudo mais que se refere ao mundo da moda precisa ser vazio. E leve. Vazio para ser livre de conceitos, para poder ser preenchido com idéias diferentes, o tempo inteiro; um vazio a ser engravidado constantemente, para que haja partos de criatividade consumível, em escala industrial. E tudo precisa ser leve para equilibrar o peso dessas tantas idéias materializadas.

Cores gritam, causam euforia visual, agitam, acalmam, aquecem, abrem o apetite, esfriam, tudo junto. Não preciso de mais esse excesso de impulsos cerebrais. Vou continuar com meu jeans, minha camiseta branca e meu pretinho básico, pra simplificar. Cores só em detalhes, porque eu já sou confusa demais, em essência. E porque não agüento mais me consumir pelo consumo. E, se já quero me despir de tantos dos meus velhos conceitos, como ainda vou topar viver com penduricalhos dos alheios?

E agora? Todo mundo nu...

6 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, deu insônia. E agora às 3:12 da madrugada descubro que também vc se veste feito desenhos animados, como a Mônica que não abre mão de seu vermelhinho básico, ou a Magali com seu amarelo incorrigível. Ainda que vc nada tenha de básica. Né, "intensa"?

Deia Vazquez disse...

Hugo, essa foi a pimeira coisa que eu falei quando ela veio com esse papo monocromático.
Querida digestora, aqueles brincos de pena de ave rara da amazônia ainda estão valendo no seu novo style? E aquele vestidinho azul com desenhos geométricos que eu adoro?
:*

A digestora metanóica disse...

Hugo:
Fala a verdade, você finge que vai dormir e volta de mansinho só para espiar depois se eu digeri...hehe
Pois é, quase a Mônica e a Magali. E só agora, neste instante, me toquei de uma coisa óbvia: os vestidos da Mônica são vermelhos porque ela é raivosa, os da Magali amarelo por causa do apetite. Ridículo eu nunca ter pensado nisso... todo mundo deve saber e eu, só agora, descobrindo a pólvora fora da validade... Obrigada por me presentear com este meu mais recente trauma...

o micróbio:
Será que é grave? Acho que não... me apegar em detalhes é só uma maneira minha de filtrar tanta poluição visual. Faço a mesma coisa com os sons, e sempre acabo pescando uma conversa aqui e ali. Mas não venha me dizer que sou fofoqueira!

deianowhy:
Miguinis, eu nunca usei brinco de pena! Não vem não!
Sobre o vestidinho geométrico, é claro que não uso mais, porque ele é de 2001!!! E nem vem que estava na moda! Hahahaha
Você não me leva a sério...
Beijos!

Deia Vazquez disse...

Por que miguinis foi retirada do blog? snif

A digestora metanóica disse...

Ai, não fala assim, Miguinis... a coelha foi retirada porque descacetou a tabela. Ela vai voltar, pode deixar!
Beijos!

lefou disse...

coida mais bonita e voce... jeje practico mi portugues, solo queria dejar constancia de mi paso por aqui... beijos